4 de novembro de 2005

Vidas interrompidas


O drama dos ex-trabalhadores da fiação

Com o encerramento da fábrica da Fiação, há 13 anos, muitos trabalhadores tiveram que “começar tudo de novo”. Histórias de vidas interrompidas que merecem ficar registadas.

“Estive um ano sem conseguir aqui passar”
Belmira Vicente trabalhou 42 anos na Fiação sendo, portanto, uma das trabalhadoras mais antigas daquela fábrica têxtil. “Vim para aqui trabalhar ainda não tinha 17 anos”, começa por explicar ao nosso jornal “Passei a minha mocidade toda nesta fábrica…aqui me casei e até a minha filha mais velha ia nascendo neste lugar…trabalhei até às 11 da noite e ela nasceu às 7 da manhã”, recorda Belmira Vicente. Sobre o dia em que a fábrica fechou nem se quer lembrar. “Custou-me muito… estive perto de um ano sem me chegar aqui ao portão. E quando passei aqui fartei-me de chorar”, revela com a voz embargada. Segundo a ex-funcionária, antes daquela altura, “dava gosto andar na fábrica e havia boa camaradagem”. O ordenado era certinho, direitinho. Depois o trabalho começou a diminuir de dia para dia. “Recordo como se fosse hoje o momento em que as matérias-primas começaram a escassear.”, disse a tomarense. “Ainda me lembro das lágrimas que chorei para ganhar o ordenado que eles me ficaram a dever”. Questionada sobre o pior momento que viveu enquanto trabalhava na Fiação Belmira mostra a mão onde diz que tem gravado “a marca da casa”.
“Um dia, por minha culpa, fiquei com a mão entalada numa máquina”, explica. “Ia para parar o tubo, ele descaiu de repente e fiquei com a mão entalada entre o tubo e a máquina…estive dois meses internada num hospital em Lisboa”, refere ao nosso jornal. A dor deste acidente infeliz passou mas a que guarda no coração continua por tratar há, pelo menos, 13 anos.

2 comentários:

Anónimo disse...

É pena quando vemos historias destas..deixam-nos o coração apertado e pensar como reagiriamos se estivessemos nessa situação...

Elvira disse...

É uma história triste... :-(