14 de outubro de 2005

Dulce Pontes em entrevista a “O Templário”

“Era capaz de viver no Convento de Cristo”

A cantora Dulce Pontes esteve na última semana no Convento de Cristo em gravações para o seu novo disco “o Coração tem três portas”. Deste trabalho, gravado em Óbidos, Tomar e La Coruña, vai resultar um álbum-documentário em formato de CD duplo e DVD interactivo, com imagens de vários concertos internacionais, que vai chegar às mãos do público por volta do Natal. “O Templário” não perdeu a oportunidade e foi entrevistar a cantora.


O Templário – Este álbum que está a gravar chama-se o coração tem três portas. O Convento de Cristo é uma dessas portas?

Dulce Pontes – Este disco é um disco totalmente ao vivo, com cerca de 26 temas, sendo que existem essas três portas, uma em Óbidos, uma aqui no Convento de Cristo e uma outra que vai ser gravada na Coruña. Depois integra registos tanto sonoros como a nível de imagem de vários concertos que começaram a ser feitos em Novembro do ano passado. Tudo isto vai dar origem a um CD duplo interactivo com imagens de vários concertos e dos bastidores do palco, como também tem as gravações dos sítios por onde andámos, sobretudo para interagir com o público.

E porque é que escolheu o Convento de Cristo para gravar?
Pelas possibilidades que existem aqui dentro, com a diversidade de salas que oferece. Escolhi os temas a gravar em cada sala, em função da acústica das mesmas … porque na verdade o que aqui se faz é uma gravação ao vivo … sem interrupções. São tomas únicas que depois dão origem ao resultado que é bastante satisfatório. E depois há um jogo interessantíssimo entre o som e a arquitectura. Este é um lugar muito energético de Portugal, isso não há dúvida nenhuma.

É também um ambiente inspirador?
Sim, muito. Eu andei por aqui livre, a cantar e a experimentar as salas, pensando no tema que tinha que gravar e se a sala onde estava se adequava à gravação desse tema… No fundo escolhi os temas em função da sala onde os ia gravar.

Foi então gravado em várias partes do Convento...
Sim, em várias partes. Eu fui cantando por aí fora e fui escolhendo os sítios para gravar em função da acústica resultado. Não estamos a gravar com amplificadores nem nada. E o resultado está a ser incrível.

Que tipo de sonoridade se pode esperar deste novo trabalho?
Estas três portas são o fado, o folclore e a música medieval portuguesa. Não taxativamente mas à minha maneira. Procurei, sobretudo, simplificar essas três variantes. A gravação de hoje (sexta-feira) é mais complicada porque vamos gravar com um pequeno coro. É mais grandiosa porque o próprio espaço, a charola, tem esse carácter. Isto é de facto um espectáculo. Era capaz de viver aqui (risos) … Sinto muita paz quando passeio nos claustros, sobretudo ao fim da tarde… É um trabalho completamente transparente que penso que seja o meu trabalho mais autêntico pelo menos esforcei-me que o fosse. Podem esperar um trabalho que vive da emoção.

É um trabalho mais intimista que os anteriores...
Sim, pode dizer-se que sim. Há uma canção, o fado Avé-Maria, que gravei no Claustro principal e nesse momento há uma pomba que passa e esse momento fica registado também… Há muita magia e cumplicidade neste trabalho. Há também um diário de bordo que um escritor italiano que está a escrever desde que iniciamos as nossas gravações e existem imagens que as pessoas podem escolher em função do seu gosto. É portanto, um trabalho muito intimista.

Como é que estão a decorrer as gravações?
Toda a equipa é fantástica. Eu estou muito bem rodeada e as pessoas entregaram-se muito a isto, talvez porque é também uma experiência diferente… Porque é uma combinação entre música, arquitectura e som. E estamos a fazer isso de uma forma muito racional. Por exemplo, estamos a dispor os músicos em função da acústica das salas e estamos a obter resultados surpreendentes… É muito difíceis captar o som real de uma guitarra portuguesa num estúdio. Aqui é mais conseguido. As coisas têm outra emoção e era isso que eu procurava.

Está em Tomar há cinco dias. Já teve oportunidade de visitar a cidade? O que é que achou?
Já tinha visitado Tomar em muitas outras alturas. É uma emoção forte. Gosto imenso. Costumava muito ir à Ilha do Lombo. Sempre que precisava de recuperar energias ia para lá. E depois é uma delícia as margens daquele rio, onde se descobre que a terra das margens é barrenta e até dá para moldar umas figurinhas e deixa-las a secar. Tenho uma paixão pelo rio. Aliás gravei já um videoclip, o do “Povo que lavas no Rio” nesta zona.

E há hipóteses de vermos um concerto da Dulce em Tomar?
Claro que sim. É dia 18 de Abril, no pomar das Laranjeiras (Convento de Cristo). E vou tentar trazer a Montserrat Caballé. É uma pessoa generosíssima e é bem capaz de aceitar…


Entrevista: Elsa Ribeiro Gonçalves
Fotos: André Dias Pereira
publicado na edição 877 do Jornal "O Templário"

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