7 de setembro de 2005

ENTREVISTA


Capitão Joaquim Delgado, Comandante do Destacamento Territorial de Tomar

“As pessoas vão assistir ao fogo quase em romaria”

As pessoas devem evitar ir até ao local dos incêndios assistir ao espectáculo do fogo, uma vez que dificultam a acção dos bombeiros e das forças de segurança. Quem o diz é o Joaquim Delgado, comandante do Destacamento Territorial de Tomar numa grande entrevista que deu a “O Templário”. É o outro ângulo de abordagem sobre a temática dos incêndios que fomos tentar desvendar.

Como é que a GNR descobre se é fogo posto ou se é um incêndio com causas naturais?
Pode ser através de informações fornecidas por populares ou através dos bombeiros. Ou até mesmo a nossa patrulha, quando se desloca ao local, chegar à conclusão que foi esse tipo de prática que deu lugar ao incêndio. Normalmente nas situações de queimadas o mais vulgar acontecer é realmente haver uma denúncia.

Muita gente aponta “mão criminosa” como a principal causa dos incêndios que deflagraram este ano…
Os incêndios que deflagraram este ano... e foram mais que muitos… há quem diga que é uma calamidade, e é, de facto, uma situação que tomou proporções maiores do que nos outros anos. Se calhar é altura das pessoas tomarem precauções maiores... As causas podem ser muitas. Tivemos um Inverno pouco rigoroso, pouco chuvoso e de certa maneira proporciona também que este tipo de situações ocorra com maior frequência…

…mas receberam muitas denúncias a apontar fogo posto...
Aconteceram algumas denúncias relativas à incúria de algumas pessoas que fazem as queimadas de forma inadequada ou inoportuna. Por incrível que pareça ainda há pessoas que a meio do ano ainda fazem queimadas de forma totalmente irresponsável e inconsciente. E depois há as outras causas...que são as causas de origem criminosa. Nos incêndios que têm ocorrido ao longo destes últimos tempos temos a certeza que alguns tiveram origem criminosa porque recolhemos indícios fortes no terreno. Foram inclusive recolhidos objectos incendiários de fabrico artesanal.

E como é que identificam o objecto incendiário… que tipologia apresenta?
São objectos montados para aquele propósito. São os mais variados...eu escuso-me a divulgá-los pois ao divulgarmos estamos de certa maneira a criar uma aprendizagem a certas pessoas mas digamos que são objectos de fabrico artesanal. Quando chegamos ao local procuramos saber onde é que o foco de incêndio teve a sua origem precisamente para procedermos á identificação e recolha de qualquer vestígio criminal.

E depois de identificados esses objectos o que acontece?
Há esse levantamento no local que nos permite saber se é um incêndio de origens desconhecidas ou de causas naturais. É levantado o respectivo auto e enviado ao Ministério Público. Se soubermos que há indícios fortes de prática criminosa com intenção esse caminho passa a ser investigado pela Polícia Judiciária. Não quer dizer que com isso não possamos colaborar mas passa a ser uma investigação exclusiva da polícia judiciária porque a lei criminal assim o dita. De qualquer modo isso não é impositivo que não exista um trabalho de equipa entre a Guarda e a PJ, uma vez que a GNR está no terreno e tem que haver este espírito de parceria e equipa.

Que penalização pode sofrer o autor de uma queimada que provoque um incêndio?
Pode até dar prisão. Normalmente, na questão das queimadas, quando a pessoa não provoca um incêndio com intenção, dá origem a situação de uma pena de multa...

E se esta queimada causar um incêndio de grandes proporções?
Uma queimada que dá origem a um grande incêndio, para além de haver uma responsabilidade criminal poderá haver também uma responsabilidade cível. Ou seja, a pessoa ter que indemnizar terceiros pelos seus danos. As pessoas têm que ser responsáveis e conscientes daquilo que fazem. Todos os anos sai publicado em Portaria qual o período em que é expressamente proibido fazer as queimadas. Muitas vezes as pessoas não atendem a isso e arriscam. E o arriscar dá lugar a esta realidade que temos vivido ultimamente.

A entrevista na íntegra pode ser lida na edição impressa do Jornal O Templário (01/09/2005)

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