“Não quero esmolas, quero um emprego digno”
Chama-se Constantino Polizhay, tem 42 anos e é engenheiro civil.
Chama-se Constantino Polizhay, tem 42 anos e é engenheiro civil.
A viver há 4 anos em Portugal, Constantino está, neste momento, desempregado e precisa de ganhar dinheiro para enviar aos dois filhos que tem na Ucrânia. Para piorar a situação, separou-se recentemente da actual mulher e, desde que saiu de casa, dorme onde calha, muitas vezes no carro, que entretanto pôs à venda.
“Não quero esmolas, quero um emprego digno”, começa por dizer Constantino. A sua dignidade é impressionante. A vida deste ucraniano sofreu um primeiro revés quando teve um acidente de trabalho na fábrica da Platex, em Setembro do ano passado. “Fui para a Platex onde trabalhava como chefe de turno”, começa por contar num português fluído. “No dia 28 de Novembro de 2004 ao puxar uma palete de platex senti uma dor na coluna e fiquei bastante mal”, explicou ao nosso jornal. Constantino foi operado no dia 9 de Fevereiro no Hospital da CUF em Lisboa e ficou de baixa médica. Apesar deste acidente, como vivia com a segunda mulher, num apartamento em Tomar, tinha apoio para aguentar a situação. No dia 5 de Maio sofre um segundo golpe: “Ligo ao meu filho na Ucrânia porque era o seu 19.º aniversário e ele dá-me a notícia que a sua mãe, minha primeira mulher, tinha desaparecido num tornado na Ucrânia”, conta emocionado. Os dois filhos, uma rapariga de 15 e um rapaz de 19 anos, ainda a estudar precisam de dinheiro uma vez que vivem em casa da avó, que sobrevive com 50 euros de reforma. Eis que nesta altura, surge o terceiro revés: “A minha segunda mulher chateia-se porque não aceita que ajude os meus filhos. Obrigou-me a escolher, escolhi os meus filhos”, conta ao mesmo tempo que encolhe os ombros.
Sem trabalho, sem saúde, sem casa, sem dinheiro para enviar para os filhos, a vida deste ucraniano é vivida com a esperança que apareça um emprego compatível com o seu problema de saúde. “Não tenho medo de trabalhar, apenas não posso fazer um trabalho com muito esforço físico por causa da coluna”, explica. E conta um episódio recente que prova isto mesmo: “No dia 7 de Junho vou a uma consulta porque a baixa estava a acabar e o médico diz que posso voltar ao trabalho mas não posso fazer esforços”. Constantino arranja então emprego numa obra mas como supervisor. A realidade é, no entanto, diferente: “Arranjo emprego na construção civil, dizem-me que é para supervisionar uma obra mas mandam-me carregar blocos de cimento”. Aguentou três dias. “Senti muitas dores na coluna, tive outra vez que ir para o hospital para ser observado” , explicou a “O Templário”. Não bastava os problemas de saúde, Constantino diz que não recebeu dinheiro nenhum desses três dias e que procurou esclarecer esta situação no Tribunal de Trabalho de Tomar. Outra vez a má sorte: “Fui ao Tribunal de Trabalho pedir ajuda e informam-me que estão de férias até Setembro”.
Apesar da sua delicada situação. Constantino Polizhay gosta de viver na cidade do Nabão. “Estou em Portugal há quatro anos e vim logo para Tomar. Gosto de aqui estar, tenho cá muitos amigos e acho que as pessoas são agradáveis.”
Aprendeu português sozinho com a ajuda de um dicionário. Ainda foi a uma escola de Línguas de Tomar perguntar o preço por uma lição de português mas ficou estupefacto com a resposta: “Pediram-me 20 euros por uma hora de lição... isso não ganho eu num dia de trabalho”, contou ainda indignado.
Durante os quatro anos que esteve em Portugal, o ucraniano trabalhou em vários sítios, “sempre com os papéis todos em ordem, a fazer descontos para a segurança social”, como faz questão de frisar. “Gosto de tudo correcto, dentro da lei”, afirma.
“Não queria sair de Tomar, gosto desta cidade e das pessoas”, conta. “Preciso de um emprego mas não pode ser pesado por causa dos problemas da coluna. Pode ser de jardineiro, supervisor, porteiro ou distribuidor... trabalho bem”, disse ao nosso jornal. E, no alto da sua dignidade, fez questão de pagar o café à repórter de “O Templário”.
1 comentário:
Outra gente. Outra dignidade.
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