1 de junho de 2006

Jornalismo Regional é...

Ter o privilégio de entrevistar pessoas simples como o Sr. Américo

Américo Santos Silva tem 69 anos e é um homem que cativa pela simplicidade. Os longos cabelos e barbas brancas – que deixou crescer de há três anos para cá – já lhe valeram vários trabalhos como figurante, um dos quais na série juvenil da TVI “ Morangos com Açúcar”.

Vale a pena conhecer a história de Américo Silva. Nascido e criado junto à igreja de Alviobeira, perdeu o pai aos 13 meses. Américo Santos Silva foi criado pela mãe e pelo padrasto que, segundo nos disse, “o ensinou” a trabalhar. “Era um bocado duro… naquele tempo não nos sabia bem mas agora reconheço que era para o meu bem e que me ajudou a preparar para a vida”, contou a “O Templário”. Nascido no seio de uma família humilde foi “obrigado” a sair de Alviobeira para Lisboa em busca de melhores oportunidades para uma vida melhor. “Primeiro fui trabalhar para os Correios, para boletineiro (distribuição de postais de Natal e de Boas Festas) mas mandaram-me embora porque só era preciso durante o natal”, começou por contar. “Depois fui trabalhar para as obras e ao fim de nove meses chamaram-me novamente para os CTT”, continuou.
O interregno da actividade nos Correios aconteceu aos 21 quando foi para a tropa. Tempo que não esquece por ter tido a oportunidade de ir a Goa (Índia). “Foi um prazer imenso ir a Goa como militar… ainda hoje sonho com aquela terra”, diz com um brilho no olhar. Regressado da Índia, ingressou novamente nos CTT, agora como carteiro e ali ficou durante 37 anos. Como tinha um horário com muitas horas livres arranjou um segundo trabalho. “Ganhava 1 conto e duzentos por mês… Depois casei-me, vieram os filhos e a ambição de querer ganhar alguma coisinha e arranjei trabalho numa fábrica de parafusos chamada Sociedade de Parafusos Fluorescentes (SPF)”, explicou. Conciliou estes dois (CTT e SPF) durante 28 anos. Quando saiu da Scolega quando uma senhora que faz parte de uma agência de figurantes olha para mim e diz para o marido: ‘olha aqui um pai natal’ e eu respondi que era uma coisa que gostava de fazer”, contou ao nosso jornal. Dirigiu-se então à agência Figurações Valente, inscreveu-se e passado pouco tempo já estava a fazer um anúncio. “Pouco tempo depois chamaram-me para ir fazer uma filmagem a Setúbal, para uma marca de telemóveis”, contou. Fez ainda outro filme todo trajado à Marquês de Pombal, fez outro de estudante de Coimbra e há cerca de dois meses fez uma participação especial na série juvenil “Morangos com Açúcar”. Sobre esta participação conta uma história curiosa: “Eu até era contra a novela porque via a minha neta todos os dias obcecada com a novela e eu dizia-lhe para ela ir estudar”. Na novela juvenil interpretou o papel de alfarrabista, como nos contou: “Eu era o dono da livraria e apareceu o Crómio para comprar livros para a namorada… eu pego nos livros e coloco-os em cima da bancada”.

“O diabo da droga” levou-lhe um filho

A curiosidade leva-nos a perguntar a razão das longas barbas brancas. A resposta surpreende. “Vivo com a minha mulher há mais de 40 anos e a minha luta sempre foi angariar alguma coisa para poder dar aos meus… e houve uma altura em que, por causa das divergências em relação à criação dos filhos me zanguei e fiz a promessa de que a partir daquele dia ia ser diferente e não cortava mais a barba e o cabelo até ao final da minha vida… mas sou contra os divórcios e acho que os casais não se devem desunir por dá cá aquela palha”, explicou. Foi há 3 anos e meio. A vida de Américo Silva conta ainda um grande revés. “Tinha dois filhos, mas um já faleceu por causa do diabo da droga”, desabafou ao nosso jornal. Américo Silva refere que sempre foi uma pessoa que todos os dias se barbeava e engravatava e até criticava os colegas que tinham um aspecto “mais relaxado”. A higiene é, no entanto, fundamental para este tomarense que faz questão de que, quer os cabelos, quer as longas barbas brancas se apresentem sempre sedosas e macias. “Temos que pensar que este ditado é verdadeiro: nunca pudemos dizer desta água não beberei”, profetiza.

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