30 de janeiro de 2007

Álvaro Simões Ramos: o inventor-poeta


Álvaro Simões Ramos tem 64 anos e desde sempre que se dedicou à invenção de peças com as mais variadas utilidades. Em Julho deste ano, criou uma espécie de “museu” onde expõe os inventos e também ferramentas antigas da sua colecção. A acompanhar as peças, colocou “frases rimadas” da sua autoria com as respectivas explicações e simbologia dos objectos de que tanto se orgulha.


Foi no lugar de Curvaceiras, Paialvo, em Tomar que encontrámos um homem com uma história admirável. Natural de Árgea, uma aldeia de Torres Novas, Álvaro Ramos reformou-se há cerca de 7 anos do ramo ferroviário, altura em que pensou em dedicar-se ao fabrico de peças de artesanato, uma das suas grandes paixões e para o qual tem um indiscutível talento inato.
“Comecei a trabalhar nas oficinas de serralharia com 12 anos pelo que tenho apreço por estas ferramentas antigas”, começou por nos explicar este homem que tanto tem de sábio como de humilde. Chegou a colectar-se nas finanças com artesão mas os problemas na coluna – derivados a duros anos de trabalho nas oficinas da CP – impediram-no de levar a ideia avante. Mesmo assim foi fazendo algumas peças que hoje podem ser vistas no museu que improvisou na garagem de sua casa e onde podem ser vistas centenas de peças, entre invenções suas e ferramentas de colecção, algumas autênticas relíquias.
Começou por nos apresentar o seu “ex-libris” a que deu o nome de “Homem dos Sete Ofícios”, um protótipo que construiu há sete anos em apenas uma semana. “Aqui estão representadas várias artes e daí o nome de Homem dos Sete Ofícios. Cada peça que o compõe tem o seu significado”, salientou, enquanto nos mostrava a explicação por escrito que faz questão de ter ao lado de cada uma das peças. Os textos são da sua autoria e “as frases rimadas”, como gosta de lhe chamar, também saíram da sua cabeça. “A boca é uma arma quando bem utilizada, por exemplo. Por isso, para a boca deste boneco, utilizei um cepo de apanhar ratos…. O coração deve ser grande e aberto e por isso foi feito com duas foices. A cabeça é feita com carretos por causa da expressão popular ‘não te passes dos carretos’ ”, explicou-nos detalhadamente.
Filho de um oleiro, Álvaro Simões Ramos - actualmente tesoureiro na Sociedade Vilanovense - recorda que a sua primeira invenção consistiu numas mudanças para uma bicicleta. “Tinha 11 anos e andava a caminhar a pé para o Entroncamento. Via os outros com uma bicicleta e fiz as mudanças para quando tivesse uma”, recordou. Desde aí nunca mais parou de inventar e do grande número de engenhos que fez destacam-se máquinas que utilizou para reparação de composições ferroviárias – facto que a Companhia distinguiu em nota de mérito – e algumas máquinas que chegou a utilizar na construção da sua casa como, por exemplo, uma betoneira. No seu quintal também estão espalhadas um pouco por todo o lado máquinas para trabalhos agrícolas da sua autoria.


“Explicar aos mais novos o trabalho que as coisas dão”

Álvaro Simões Ramos criou o seu “museu”, sobretudo a pensar nas gerações futuras. “Há muitas coisas que aqui estão que os mais novos nem sabem que existem senão lhes for explicado”, refere. Peças antigas que pretendem retratar o “sacrifício e o trabalho dos antigos” que trabalhavam com ferramentas artesanais.
Muitas das peças exposta foram-lhe oferecidas por familiares, amigos ou foram encontradas pelo próprio “ por aqui e acolá”.

“Isto, por exemplo, era um balde que tirava a água com a picota para regar a horta”, aponta. Mas quem visitar este espaço, entre centenas de objectos, também pode ver relógios antigos a corda, lanternas de azeite, guizos de animais, ferraduras, funis, baldes, e até uma Dona Elvira que era dum seu vizinho e restaurou.
Na visita guiada que nos fez pelo espaço, Álvaro Ramos emociona-se quando nos mostra uma roda de oleiro em miniatura que fez, muito recentemente, em homenagem ao seu falecido a pai. “O meu pai fez muita loiça de bairro que vendia no mercado em Tomar debaixo de umas acácias”, recorda. Ao lado da miniatura, réplica perfeita, pode ler-se o poema: “O meu pai foi oleiro, era sua profissão, com as mãos moldava o barro mas também com o coração…”.
Apesar de já ter centenas de peças expostas, Álvaro Ramos não vai parar por aqui. No seu jardim mostra-nos um carrinho de mão cheio de outras tantas relíquias que vai escolher criteriosamente e restaurar com carinho para depois adicionar ao seu museu. “Aqui está uma pomba em madeira que já andou num tabuleiro das Festas dos Tabuleiros”, refere mostrando o objecto. Para o minucioso trabalho de restauro, Álvaro Ramos tem em sua casa uma oficina e carpintaria composta por máquinas que, claro, também por ele foram inventadas. Ou seja, Álvaro Ramos além de inventar as peças, inventa também a maquinaria onde faz as invenções. Isto sem ter alguma vez frequentado um curso ou acção de formação nesse âmbito.
“O lugar dele era no Centro de Formação a passar os seus conhecimentos aos mais novos que pretendam aprender este ofício ou a restaurar peças antigas em monumentos. Tem uma habilidade foram do comum, que é inata, e que por todos devia ser conhecida”, reforça o amigo Manuel Coentro, que não lhe poupa elogios (ver caixa).
A última peça que idealizou foi uma escultura onde se vê um ninho com a mãe, o pai e os três filhotes. Chamou-lhe o Milagre da vida. Porque mais do que um inventor, Álvaro Simões é, acima de tudo, um poeta.

Elsa Ribeiro Gonçalves

O último morador da Praça da República

É natural de Torres Novas um dos últimos moradores da Praça da República de Tomar. Sebastião José Maurício Brites Nobre, 57 anos, usufrui desde há 12 anos de uma vista privilegiada para Gualdim Pais. “Se um dia mudar há-de ser para uma casa ao pé do rio”, confessou o arquitecto ao nosso jornal.

O Templário – Há quanto tempo vive na Praça da República?
Sebastião Nobre – Moro há 12 anos.

É o único morador da praça?
Não, penso que tenho uma vizinha aqui no último piso de um andar ao lado do café Pepe e, por vezes, passa por aqui a viúva do Puga da ourivesaria. Á excepção do Gualdim Pais, são as únicas pessoas que penso que ainda têm uma relação com a praça.

E como é que é viver num local como a Praça da República?
“Viver na Praça tem graça”, como dizia o Lopes-Graça. As praças foram, durante o período do urbanismo, um sítio central do próprio poder. Tomar era uma cidade pequena e média burguesa pelo que todas as pessoas das chamadas “boas famílias” habitavam na Praça ou na chamada corredoura. É, por exemplo, o caso dos Tamagnini ou os Silva Magalhães. Também todo o comércio se desenvolvia dentro deste local central. Até que depois do 25 de Abril de 74 entrou em quebra…

E a que se dá esta quebra do comércio na praças?
Tem a ver com a própria economia e desenvolvimento. Os grandes centros antigos (e de todas as cidades, como Lisboa) estão actualmente desertos. Isto também tem a ver com outra questão que é o direito da propriedade. As pessoas têm grandes casas e muitos filhos que, entretanto, foram viver para outros sítios pelo que estas casas ficaram indevisas, ou seja, é a casa de todos mas ninguém habita nelas. Famílias tomarenses que desapareceram e os herdeiros foram viver para outros sítios. Enquanto houver um filho ou outro que queira habitar estas casas consegue-se manter gente a viver nas praças mas, caso contrário, não.

E estamos a falar de edifícios muito antigos…
Todos os edifícios que aqui estão, ou a maior parte, têm raízes no século XIX sendo que alguns entram no chamado período do século XX, onde se efectuaram alterações às construções. Mas a generalidade é do século XIX, tirando a igreja e a câmara municipal, ou seja, os edifícios nobres. Nessa altura, todas as coisas se passaram à volta do local central

Ler entrevista completa na edição n.º 941

Edição n.º 944

18 de janeiro de 2007

16 de janeiro de 2007

Centro histórico sem viv'alma

Os centros históricos das cidades estão cada vez mais desertificados. A falta de estacionamento, o envelhecimento da população e o encerramento de muitas lojas contribuíram para afastar as pessoas das ruas antigas da cidade. Tomar não é a excepção à regra e, sobretudo ao fim-de-semana, pouca gente se vê nas ruas. Um arquitecto morador da zona calcula que a parte velha da cidade tenha perdido 2/3 da população nos últimos 10 anos.
"Abro a loja ao sábado à tarde mas nas ruas não se vê ninguém. Os pais vêm aqui passear com os meninos à Praça da República mas é só…". O desabafo é do gerente da Nova Mobiladora Manuel Antunes, localizada na Rua Silva Magalhães, em pleno centro histórico de Tomar.


Reportagem integral na edição n.º 942 d' O Templário

12 de janeiro de 2007

9 de janeiro de 2007